O encontro com Clarice e Adriana
(ativistas do movimento Negro/Seduc-Poa) foi muito produtivo no que diz
respeito á uma nova tomada de consciência sobre a ausência e presença do negro
na cidade de Porto Alegre.
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Monitora da saída de campo |
O real início de nosso trabalho
de campo é efetivado um dia antes (sexta feira, 1/06) durante a aula da
Professora Lígia Goulart, que explanou sobre a importância deste tipo de
trabalho, de quebrar certos paradigmas e de objetivar ele, para que tenho um melhor
proveito.
A início prático do trabalho se
deu, de fato, na tarde de sábado (02/06), quando a professora Carla Meinerz,
ainda dentro do campus central, nos mostrou a bela obra plástica que
mostra o contorno do continente africano figurando como se fosse uma marca de
pegada, representando assim, nos lugares onde é reproduzida, as heranças culturais, territoriais e
simbólicas dos negros de Porto Alegre (existe também uma destas marcas na praça
da Alfândega).
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UFRGS-Campus Central |
Não nos basta apenas ler recortes
da história e constatar a opressão sofrida pelo povo negro na cidade de Porto
Alegre. Um trabalho de campo desta natureza é muito frutífero, pois as
vivências de nossas “guias/orientadoras” também faz com que apropriemo-nos de
uma sistematização referente a retirada (Expulsão) do negro, das áreas centrais
da cidade através de ações higienizadoras, burguesas e racistas.
Nossa primeira parada, próxima á
igreja das Dores, na rua dos Andradas, permitiu-nos uma vivência com o toque
percussivo de uma réplica de tambor, onde todos colaboraram para o troar do som
naquela reprodução de instrumento, que significa a religiosidade e o sentimento
de pertença do negro em relação á sua africanidade, bem como (no caso, o
posicionamento daquela réplica em si) a localização de algumas concentrações de
populações negras na cidade a algumas décadas atrás. Não somente a arquitetura,
a tez da pele dos transeuntes ou as placas e memoriais nos dão algum sentido de
representação social de algum bairro. O culto aos tambores (atabaques, sopapos)
pode ser uma referência de identificação dos perfis etnográficos dos
territórios, em especial no Brasil, país tão carregado de musicalidade e
irreverência cultural, amalgamada por excelência.
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Largo da Forca |
No campo que fizemos, passamos
pelo parque da redenção, no bairro Bom Fim. Este parque possui este nome pois
os últimos escravos obtiveram sua liberdade neste local. O que pode ser
explorado geográfica/historicamente nesta parte do trabalho de campo é o fato de
que muitas famílias de judias compraram terrenos neste bairro após o fim da
segunda guerra mundial. Sendo assim, os negros que ali residiam até então foram
sendo excluídos no processo de urbanização, e tiveram que mudar suas
residências para o bairro da Lomba do Pinheiro, Parthenon, assim como ocorreu
com as famílias que se situavam na ilhota e cidade baixa, que foram forçados a
se mudarem para a restinga.
A história da urbanização da
cidade de Porto Alegre é, de certa forma, a história da exclusão espacial dos
negros.
O quilombo do Silva, por sua vez,
é um exemplo de quilombo urbano e de resistência Sócio/cultural em uma área
central da cidade. O pensamento do professor Milton Santos quanto à cidade (o
de que ela é uma “sucessão de tempos desiguais”) é notado com precisão neste
caso. As temporalidades dos moradores, a arquitetura antiga tramada em meio às
novas moradias, os fios de luz entrelaçados, são bons exemplos das condições
gerais em que estão os quilombolas urbanos do Rio Grande do Sul e do Brasil.
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Quilombo do Areal |
Na Avenida Ipiranga, observamos
uma pichação que diz “Brigada racista, valeu Zumbi”. Pichação esta, que por
estar muito próxima ao palácio da polícia, mostra (da parte de quem “pichou”)
uma rebeldia, um questionamento e repúdio quanto ás atitudes que a polícia vem
tendo frente aos jovens negros da cidade.
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